A maçã e o Pecado.

No principio criou Deus os céus e a terra / A terra não tinha forma, não tinha vida, não tinha nada / Criou o dia, a noite, a fauna e a flora, terrestre e marinha / Por fim, criou o homem e de sua costela, a mulher / A mulher por sua vez, leva o homem a comer o fruto proíbido.

Texto Saulo Leal.

Bem, seria mesmo a maçã o fruto proibido?
Lembro da leitura que fiz do livro "A sociedade dos Indivíduos" de Norbert Elias que fala um pouco sobre o mito de Adão e sobre a formação da individualidade, o livro esclarece que para nos tornarmos indivíduos, precisamos necessariamente nos relacionar uns com os outros, e que somos fruto dessas relações ao longo da vida.

Se nascêssemos e em seguida fossemos isolados do convivio social, certamente não sairíamos da condição de selvagens, ainda hoje estaríamos caçando com paus e pedras, não teríamos desenvolvido tão bem a comunicação oral e escrita, não seriamos capazes de amar ou de desenvolver laços afetivos que não fosse o de tão somente se reproduzir. Ainda seriamos macacos.

Ao entender o conceito de individuo, passei a crer que o fruto proibido descrito no Gêneses representa a descoberta da Individualidade. Após comer a maçã [simbolicamente], Adão percebeu [teve consciência de] que estava nú e seu primeiro ato foi cobrir suas partes, pois o mesmo sentiu vergonha de Deus. Um ato como este, me faz lembrar uma criança desprovida de referenciais que quando pequena não se constrange em estar quase sempre sem roupas, mas que depois de sua personalidade formada, se torna inconcebível tal atitude.

Partindo do principio de que o fruto proibido é a descoberta da individualidade pelo homem, pode se dizer que comer a maçã [tornar-se individuo] seria algo inevitável, que cedo ou mais tarde aconteceria de algum modo, se não fosse por Adão, seria por um de seus filhos, afinal, o homem se torna individuo na medida em que se relaciona socialmente e partindo da lógica da reprodutibilidade humana, em pouco tempo a terra teria algumas dezenas de pessoas que se relacionariam entre si e inevitavelmente comeriam o fruto proibido, ou seja, o homem nasceu para ser pecador, nasceu para ser indivíduo.

Saulo Leal